os dez de 2010 - parte III

5. Kings Go Forth - The Outsiders Are Back

Show us what you got!

“The outsiders are back” é surpreendentemente o primeiro trabalho dos Kings Go Forth (KGF), os “dez de Milwaukee”, lançado em 2010 pela editora Luaka Bop.

O movimento é o mesmo que nos traz Sharon Jones, Charles Bradley, ou Charles Walker and The Dynamites, e constitui mais um argumento favorável à tese da solidez dos projectos assentes no deep soul e deep funk dos anos setenta. Podemos falar de um fenómeno revival, justificando a desatenção momentânea da indústria discográfica ao ignorar o trio acima elencado, mas os KGF complicam a equação – são a prova de que mais do que reavivar carreiras é possível construí-las com o groove dos 70’s.

Influências… a única facilmente assumida à priori é a de Mayfield, através de Black Wolf (voz: não se deixem enganar pelos dreadlocks!) que chegou a gravar nos estúdios do mito. De resto, de Chicago a Memphis, cabe muita coisa em “The outsiders are back”. Até a influência jamaicana em “1000 Songs”, e no género big band (10 elementos!), que nos relembra as primeiras bandas de R&B e Ska, com as vastas secções de metais a rasgarem por cima de uma precursão diabólica.

“One Day” e “I Don´t Love You No More” são os temas que abrem o álbum, e se ainda tivermos forças para tal, depois de um embate capaz de nos esmagar contra a poltrona, vamos erguer a níveis épicos a nossa vontade de dançar. Precursão ritmada, e vozes poderosas com coros a remeterem para o “motown sound”, entrecortadas pelos estribilhos dos metais.

“You Are The One” é mais soulfull, e não será o resto do álbum que nos vai desapontar. “Fight With Love” soa a 80’s, e a percursão e os riffs de “Dont Take My Shadow”, que não passaram incólumes pelo ouvido de Tom Moulton, têm marca de The Funk Brothers.

O importante a reter sobre os KGF é que não estamos nos 70’s, estamos em 2011.

Pedro Nunes




6. José James - Blackmagic

Código: MagiaNegra

Dois anos depois da sua estreia com "The Dreamer", a fasquia estava alta, mas este senhor nascido em Minneapolis sacudiu a pressão dos ombros e atirou-nos com Blackmagic para cima.

Com participações de Flying Lotus, Moodyman e Taylor McFerrin, este segundo álbum reflecte o amadurecimento próprio de um grande talento, baralhando ainda mais os ávidos catalogadores musicais. Em que gaveta se deve arrumar este senhor? Não me perguntem. JJ mergulha de cabeça em Jazz, Hip-Hop, Funk, Soul, R'n'B, Electronica, Dubstep, e dessa natação resulta algo fluído, sons que se fundem naturalmente com a sua voz.

Facilmente se poderiam destacar meia dúzia de temas, mas melhor será fazer a audição completa e daí tirar as devidas conclusões.

Novamente editado pela Brownsood - label do famoso radialista Gilles Peterson - Blackmagic é um álbum coerente, marcando uma posição sólida num percurso que se adivinha brilhante.


Filipe Cravo



7. Aloe Blacc - Good Things

Devolver a intervenção à Soul

Longe vão os tempos de MC num grupo de rap californiano chamado Emanon. Em 2006 lançou-se pela Stones Throw com o seu primeiro longa-duração Shine Through, onde o hip-hop, apesar de predominante já abria espaço a laivos de soul e R&B. Este ano Aloe Blacc deixou a pele de rapper para se lançar à velha soul e trazê-la à ribalta. Com “Good Things”, o artista norte-americano deixa para trás o hip hop para se abraçar definitivamente à soul, pelo menos é para isso que rezamos, que a voz encaixa mesmo bem. “I Need a Dollar” e “Politician” duas músicas que saltam à vista, mostram e lembram a quem se esqueceu, de que a soul não é só para amores. A soul interventiva de Aloe Blacc chegou na altura certa e a aceitação foi unânime. Um álbum coeso que nos deixa expectantes em relação a futuros trabalhos de Blacc. Fica a sugestão de uma futura colaboração com Lee Fields ou Madlib que andam pelas paredes da Stones Throw.


João Gaspar

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