António Sanches - Buli Povo!
Praticamente impossível de encontrar durante muitos anos, o som de “Buli Povo!” é tão impressionante e fascinante hoje como foi no dia em que foi lançado. Passados 35 anos, foi finalmente reeditado pela Analog Africa, num belo gatefold e vinil de 180gr.
O Funaná, o mais africano dos estilos musicais de Cabo Verde, foi banido pelos governantes portugueses durante o colonialismo. Mas em 1974, com a independência e o nascimento da banda Bulimundo, tudo mudou. O seu líder, o guitarrista Katchás, acreditou que era hora de fazer uma nova abordagem, por isso decidiu procurar fundo nas antigas raízes rurais do Funaná e modernizá-lo com um ambiente eletrificado de banda completa. A ideia deu origem a um novo capítulo na já rica paisagem musical cabo-verdiana.
Um grupo de músicos jovens igualmente aventureiros e talentosos com um renovado sentido de orgulho espalhado pelas cidades de Lisboa, Paris e Roterdão seguiram o caminho e com a ajuda de sintetizadores, pedais de guitarra e todo o tipo de efeitos de estúdio criaram as suas próprias interpretações do Funaná.
Um desses músicos foi António Sanches, que gravou “Buli Povo!”, a mais estranha e fascinante gravação que surgiu durante este período. Gravado em Lisboa com a lendária Voz de Cabo Verde em 1983, este álbum é uma jornada sintetizada até aos limites da música popular cabo-verdiana, que permaneceu fora do radar musical até agora. Nestes últimos anos o interesse pela música cabo-verdiana começou a crescer, fazendo assim circular rumores sobre o estranho brilho desta jornada sintetizada até ao coração do Funaná.
Nascido na ilha de Santiago, na Cidade Velha, António Sanches teve contacto com música desde cedo - como, aliás, é costume por ali. O seu pai tocava ferrinhos e a mãe pertencia a um grupo de Batuque, o que ajuda a perceber como o ritmo do Funaná e do Batuque sempre esteve presente na sua vida. António nunca fez parte de nenhuma banda. Vendia carne no mercado de Praia, até se mudar para Portugal, em 1972, com o cantor Frank Mimita - figura central da cena musical Cabo Verdiana.
Frank sempre o encorajou, dizendo: "Insiste, vais ver que um dia a tua música e o teu talento vão ser reconhecidos!" - e apesar de trabalhar como pedreiro e de fazer todos os biscates possíveis para ter dinheiro para sobreviver, nunca deixou de pensar em fazer música. De tempos em tempos actuava no Monte Cara, o clube noturno cujo dono era também ele um vulto: Bana. Reza a lenda que Paulino Vieira tentou por várias vezes convencer Bana a produzir o disco de António Sanches, mas tal nunca se veio a concretizar.
Acabou por ser outro produtor, chamado Afonso Coronel, a interessar-se mais pelo estilo de António Sanches. Um estilo único, mais cru, mais visceral. Depois de convidar António para gravar um álbum, tudo surgiu naturalmente. António convidou a Voz de Cabo Verde para o acompanhar e assim foi. Paulino Vieira na guitarra, o seu irmão, Toy Vieira, no sintetizador, Bebêtho no baixo e Toi Paris na bateria, sendo o próprio António Sanches o vocalista e percussionista.
Todo o disco teve arranjos de Paulino Vieira, e foi gravado em apenas um dia, nos estúdios Jorsom em Lisboa, sem quaisquer ensaios prévios. Tudo fluia suavemente, mas António teve alguns problemas com Toy Vieira, que tocava solos nas teclas parecidos aos de Bulimundo. António explicou-lhe que o seu som era único, não imitava ninguém, e consta que Toy Vieira percebeu na perfeição a mensagem, conseguindo assim um resultado singular.
A mensagem principal de Buli Povo! é matar a saudade. "A saudade pode deitar-nos abaixo por isso decidi espalhar alegria e optimismo" - disse António Sanches.
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O Funaná, o mais africano dos estilos musicais de Cabo Verde, foi banido pelos governantes portugueses durante o colonialismo. Mas em 1974, com a independência e o nascimento da banda Bulimundo, tudo mudou. O seu líder, o guitarrista Katchás, acreditou que era hora de fazer uma nova abordagem, por isso decidiu procurar fundo nas antigas raízes rurais do Funaná e modernizá-lo com um ambiente eletrificado de banda completa. A ideia deu origem a um novo capítulo na já rica paisagem musical cabo-verdiana.
Um grupo de músicos jovens igualmente aventureiros e talentosos com um renovado sentido de orgulho espalhado pelas cidades de Lisboa, Paris e Roterdão seguiram o caminho e com a ajuda de sintetizadores, pedais de guitarra e todo o tipo de efeitos de estúdio criaram as suas próprias interpretações do Funaná.
Um desses músicos foi António Sanches, que gravou “Buli Povo!”, a mais estranha e fascinante gravação que surgiu durante este período. Gravado em Lisboa com a lendária Voz de Cabo Verde em 1983, este álbum é uma jornada sintetizada até aos limites da música popular cabo-verdiana, que permaneceu fora do radar musical até agora. Nestes últimos anos o interesse pela música cabo-verdiana começou a crescer, fazendo assim circular rumores sobre o estranho brilho desta jornada sintetizada até ao coração do Funaná.
Nascido na ilha de Santiago, na Cidade Velha, António Sanches teve contacto com música desde cedo - como, aliás, é costume por ali. O seu pai tocava ferrinhos e a mãe pertencia a um grupo de Batuque, o que ajuda a perceber como o ritmo do Funaná e do Batuque sempre esteve presente na sua vida. António nunca fez parte de nenhuma banda. Vendia carne no mercado de Praia, até se mudar para Portugal, em 1972, com o cantor Frank Mimita - figura central da cena musical Cabo Verdiana.
Frank sempre o encorajou, dizendo: "Insiste, vais ver que um dia a tua música e o teu talento vão ser reconhecidos!" - e apesar de trabalhar como pedreiro e de fazer todos os biscates possíveis para ter dinheiro para sobreviver, nunca deixou de pensar em fazer música. De tempos em tempos actuava no Monte Cara, o clube noturno cujo dono era também ele um vulto: Bana. Reza a lenda que Paulino Vieira tentou por várias vezes convencer Bana a produzir o disco de António Sanches, mas tal nunca se veio a concretizar.
Acabou por ser outro produtor, chamado Afonso Coronel, a interessar-se mais pelo estilo de António Sanches. Um estilo único, mais cru, mais visceral. Depois de convidar António para gravar um álbum, tudo surgiu naturalmente. António convidou a Voz de Cabo Verde para o acompanhar e assim foi. Paulino Vieira na guitarra, o seu irmão, Toy Vieira, no sintetizador, Bebêtho no baixo e Toi Paris na bateria, sendo o próprio António Sanches o vocalista e percussionista.
Todo o disco teve arranjos de Paulino Vieira, e foi gravado em apenas um dia, nos estúdios Jorsom em Lisboa, sem quaisquer ensaios prévios. Tudo fluia suavemente, mas António teve alguns problemas com Toy Vieira, que tocava solos nas teclas parecidos aos de Bulimundo. António explicou-lhe que o seu som era único, não imitava ninguém, e consta que Toy Vieira percebeu na perfeição a mensagem, conseguindo assim um resultado singular.
A mensagem principal de Buli Povo! é matar a saudade. "A saudade pode deitar-nos abaixo por isso decidi espalhar alegria e optimismo" - disse António Sanches.
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